Entre
irmãos
Mais
um dia comum na rotina de um juiz do trabalho, se não fosse,
entretanto, uma situação bastante inusitada - um litígio entre
irmãos! Tratava-se de uma reclamação trabalhista em que se
pretendia o reconhecimento de vínculo empregatício do suposto
empregado com a sua própria irmã, que tinha uma pequena barraca de
patéis numa feira de determinada cidade do interior.
Logo
após alguns esclarecimentos em audiência, percebi que a “treta”,
na verdade, se deu por conta de um desentendimento entre o irmão e o
cunhado! Típico caso de família! Ahhh, se o pessoal soubesse que,
não raras vezes, somos pacificadores dos mais diversos conflitos
subjacentes nos quais a matéria trabalhista é apenas pano de fundo
para justificar uma lide psicológica, talvez houvesse uma melhor
valorização desta jurisdição especial.
Para
tentar apaziguar os ânimos e formular a pactuação de um acordo,
falei da importância da família no contexto social e que ter um
irmão é como contar com a ajuda de um verdadeiro guardião nesse
mundo solitário. A vida já é difícil por si só e brigas
familiares somente a tornam ainda mais amarga.
Apesar
de estar inspirado naquele dia, de nada adiantou. O reclamante
aparentava muito irresignado. Lembrava muito uma criança que foi
contrariada e não queria fazer as pazes. Foi quando as nobres
advogadas que acompanhavam as partes tomaram as rédias daquela
situação e conduziram o desfecho da melhor forma possível.
Em
dado momento, fiquei como expectador daquela tratativa de acordo
capitaneada pelas causídicas. Elas conversaram isoladamente com cada
parte, expuseram todos os prejuízos da perpetuação do processo e
atuaram como verdadeiras psicólogas. Nosso trabalho realmente fica
mais fácil com a atuação de profissionais engajados e cientes de
seu papel de pacificadores sociais. Todos somos instrumentos valiosos
do Estado Democrático e Social de Direito.
Passados
alguns minutos, disse de forma bastante atrevida:
-
Então, vamos celebrar finalmente este acordo!? Que tal vocês se
abraçarem!?
O
autor, em um primeiro momento, se recusou a estender a mão para sua
irmã. Porém, levada por um ímpeto de carinho, esta se levantou da
cadeira e caminhou até a direção dele.
Momentos
de tensão! Que rufem os tambores!
Apesar
do acordo, ele estava ainda bastante magoado com aquela
circunstância e não arredou o pé de seu lugar, deixando a sua
parenta no vazio. Foi quando a irmã pegou-o pela camisa e deu um
forte abraço de perdão. A partir daí, caímos todos na choradeira!
É
claro que não podia perder esta oportunidade! Tirei uma foto, com a
devida autorização, que guardo até hoje em meus arquivos pessoais,
para eternizar aquele instante maravilhoso!
Foi
um dia inesquecível!
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