Whitewashing
Recentemente,
a atriz Scarlett Johansson, uma das mais famosas e aclamadas no
contexto da produção cinematográfica de Hollywood, foi alvo de uma
polêmica por conta de sua escalação para protagonizar o
longa-metragem “Ghost in the Shell” (A Vigilante do
Amanhã).
“Ghost
in the Shell” é uma produção de ação sobre um dos animes
japoneses de maior sucesso de todos os tempos. Toda a trama é
ambientada no Japão e os principais membros do elenco são
japoneses. A crítica se deu em razão da escolha de uma atriz branca
para interpretar uma conhecida personagem oriental (Motoko Kusanagi).
Ativistas
irritados com a escassez de papéis para atores do leste asiático em
Hollywood lançaram uma petição requerendo que Scarlett Johansson
fosse retirada da próxima adaptação da DreamWorks, já contando
atualmente com milhares de assinaturas. Em defesa, a atriz deu
declarações evasivas no sentido de que a heroína é um ser mais
robótico do que humano, não havendo uma identidade étnica definida
(negra, branca ou oriental).
Em
uma primeira análise, a escolha da atriz parece se referir a uma
questão meramente mercadológica, uma vez que a história oriental
teria dificuldades para atrair um grande público aos cinemas e
superar os custos da superprodução. Assim, colocar uma atriz, com
experiência e prestígio, do porte de Scarlet Johansson, poderia
ajudar neste quesito. A utilização deste expediente também pode
ser observado em muitos outros filmes americanos, como, por exemplo,
Doutor Estranho (Doctor Strange) e Jogos Vorazes (The
Hunger Games).
Entretanto,
a mudança do perfil étnico de atores para a interpretação de
personagens sabidamente de outras descendências, longe de se tratar
apenas de uma estratégia de marketing, espelha uma predileção
discriminatória por parte da indústria do cinema, em autêntica
“racial insensitivity” (insensibilidade racial). Portanto,
“whitewashing” pode ser conceituado como uma política
abusiva e segregacionista de “embranquecimento” na produção de
artes visuais, enquadrando-se em uma vertente de discriminação
indireta (disparate impact).
Ocorre
que tal estratégia, além de desrespeitar uma certa
representatividade e diversidade sociais, causa uma fuga desarrazoada
do enredo original. Um personagem, com todas as suas características
visuais (cor, traços e trejeitos), leva consigo um histórico
(background) de aspirações e desilusões percebidos por meio
de sua imagem real, tudo com o objetivo de aproximar o expectador da
saga a ser contada. Nas palavras de Maxwell Maltz: “A auto-imagem é
a essência da personalidade e do comportamento humano. Mude a
auto-imagem, e ambos serão transformados”.
CABRAL,
Bruno Fontenele. Aplicação das teorias do "disparate
treatment" e do "adverse impact" nas relações de
emprego. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 15, n.
2578, 23 jul. 2010. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/17034>. Acesso em: 13 jan. 2019.
https://www.theguardian.com/film/2017/aug/29/the-idea-that-its-good-business-is-a-myth-why-hollywood-whitewashing-has-become-toxic
https://cinepop.com.br/em-nova-entrevista-scarlett-johansson-fala-sobre-a-polemica-do-whitewashing-em-ghost-in-the-shell-137934
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