Como reagir quando uma decisão é divulgada na imprensa? (Considerações sobre a juíza que eu quero ser)
Essa semana, perto de completar cinco meses de magistratura, uma
decisão minha foi veiculada no Valor Econômico. Na sequencia,
divulgada pelo Conjur na internet e nas redes sociais. Compartilhada
à exaustão, chegou em um grupo do facebook que é por mim e alguns
colegas administrado, desde meus tempos (não tão distantes) de
concurseira.
Enquanto a decisão estava apenas nos grandes portais, eu consegui
com sucesso não ler nenhum comentário. Bem disse o ministro
aposentado do Tribunal Superior do Trabalho, Pedro Paulo Teixeira
Manus, em uma palestra que assisti na Escola Judicial do TRT2 que não
faz bem ler razões de recurso ordinário das nossas decisões! RS
Ele tem razão.
Ao me deparar com os comentários no grupo de estudos, meu estômago
doeu: “decisão absurda”, “não acredito que ela fez isso em
início de carreira”, “o tribunal vai reformar”, “queria ver
se condenaria o empregador assim”, “ela foi parcial” e por aí
vai. Como reagir? Fui dormir refletindo e o resultado da reflexão
compartilho com os senhores.
Já adianto que não retruquei nenhuma manifestação. Nenhuma delas.
Primeiro porque eu não devo contas para terceiros. Devo contas à
sociedade como um todo e à minha consciência. Quando assumi o cargo
jurei cumprir a Constituição e as Leis da República. Isso venho
fazendo com toda a dignidade que exige a judicatura.
Segundo porque não adiantaria explicar que o valor da causa foi
alterado com base em critérios matemáticos e respaldada pelo Novo
CPC. A íntegra da decisão está disponível na internet, basta uma
calculadora para chegar ao mesmo resultado. Não adiantaria
igualmente explicar que levei 4 horas em uma audiência de instrução,
tempo que poderia ser dedicado a 20 audiências iniciais que
envolvessem tutelas antecipadas (liberação de FGTS e Seguro
Desemprepo, por exemplo). Finalmente, é irrelevante mandar decisões
em que fiz exatamente o mesmo procedimento (alteração do valor da
causa e multa por litigância de má-fé) em desfavor dos
empregadores. Eu não preciso justificar meu decoro.
São tempos difíceis os nossos. As pessoas nada leem, nada
interpretam e tudo julgam.
A conclusão? Não reagir. Faz parte da carreira lidar com a cólera
alheia e, principalmente, ter força de caráter para não justificar
o que não precisa de justificativa.
Sobre a juíza que eu quero ser: UMA QUE DORME COM A CONSCIÊNCIA
TRANQUILA.
Recordem que por trás de um magistrado existe um ser humano lutando
pelos valores que acredita serem os mais justos para a sociedade em
que ele vive.
Segue o baile. Um abraço e até.
* Esta postagem é de autoria da colaboradora Dra. Samantha Steil, Juíza do Trabalho Substituta do TRT-2
É isso aí... hoje em dia as críticas estão muito superficiais. A informação chega freneticamente a muitas pessoas, mas quase ninguém se aprofunda, eis um ônus da sociedade da informação.
ResponderExcluirJuiz ideal é aquele que se dedica exclusivamente ao seu ofício, trabalhando diuturnamente pela sociedade, de forma DISCRETA E SILENCIOSA.
ResponderExcluirOutros perdem tempo comentando as próprias decisões...e se sentem surpreendidos com o ônus da fama.
Julio Almeida
Quero ser esse tipo de juíza também. Parabéns, Samantha.
ResponderExcluirPois é, doutora. Embora seja inerente à função pública a "impessoalidade", notadamente à judicatura onde o juiz é "órgão", tal característica não significa que por trás das ações estatais estejam apenas robôs, máquinas frias e desprovidas de qualquer sentimento. Entenda estes percalços como parte do processo de aprendizado, algo que nunca acaba, nem na vida pessoal, muito menos na seara profissional.
ResponderExcluirPARABÉNS! Acompanho os seus tempos de conncurseira e a Sra tem sido uma verdadeira inspiração ! Excelente texto e desabafo!
ResponderExcluirLinda! Admiro sua coragem!
ResponderExcluirParabéns!
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